Consumismo infantil: criança, a alma do negócio?
Ninguém nasce consumista, mas nossas crianças já nascem em uma realidade capitalista e consumista. Temos o exemplo do ‘Dia das Crianças’, uma data tão desejada pelos pequenos – e pelo varejo – e tão preocupante para muitos dos pais e responsáveis.
Qual é o desejo? Receber!
Qual é a preocupação? Ter que dar e o que dar!
Ou seja, conflito identificado: DAR X RECEBER
Em consultório, noto com frequência preocupações dos responsáveis referentes à voracidade das crianças em querer receber, muitas vezes, sem se satisfazer e permanecer de ‘bocão’ aberto desejando cada vez mais e mais.
Também sou mãe, mas meu filho tem um ano e seis meses e ainda não tem essa percepção do mundo externo de supervalorização do ter. E é exatamente por isso que resolvi escrever para vocês!
Antes dessa dinâmica ser instalada na minha casa refleti como mãe (com valores pessoais) e como profissional em como cuidar desse conflito, sem intensificar a angústia e questionamentos. A estratégia é manter o dinamismo do DAR e RECEBER.
Então vamos desmembrar:
– A criança quer RECEBER. O importante é identificar o que não recebe em momentos de rotina e correria do dia-a-dia. Vamos valorizar aqui a relação com os responsáveis, o afeto, uma experiência sensorial e vivencial diferente, algo que envolva a relação e conteúdos distintos e inusitados.
– Paralelamente a reflexão sobre o DAR envolve a avaliação pessoal do que gostaria de se oferecer aos filhos, nessa relação, e que muitas vezes não é possível devido a diversos motivos.
Assim, o desafio é refletir, avaliar e buscar preencher aquilo que faz falta no dia-a-dia e que faz MUITA falta nos registros internos da criança.
Por favor! Não estou fazendo uma apologia contra o consumismo e o ato de ter. Apenas trago outro olhar, voltado para a relação afetiva, para a troca entre responsáveis e seus filhos. Constatação essa frequente no consultório e que, quem sabe, ampliando a visão, alivie a angústia, e que essa relação fique mais doce, com confetes surpresas, onde o simples já é suficiente.

